sexta-feira, 25 de junho de 2010

E minha alma, sem luz nem tenda...

Passa errante, na noite má [...]. (Cecília Meireles)

Uma pressão forte em meu peito fazia meu coração descompassar. Era uma situação agonizante, como se eu estivesse presa, sendo constantemente vigiada. Sentia como se alguém me observava, tentando enxergar além do que via. Um simples olhar não fala sobre você, mas é uma passagem para o mais profundo de sua alma. Poderia dizer até mesmo que era como se alguém invadisse meu inconsciente, bagunçasse minhas memórias, a procura de algo. Ou alguém. Mas escondo algo importante de alguém? Apenas omito o desnecessário, escondo o íntimo e acoberto o particular.

Parecia uma força obscura tentando me desvendar, logo no meu momento mais vulnerável. No meu mundo, onde, em tese, eu controlava. Se algo desabasse sem a minha permissão, era algo mais forte despertando minha desconfiança e meu desespero silencioso. Como pedir ajuda, se a mesma não existe aqui? Eu estava sozinha, enfrentando o desconhecido de mim mesma. Os meus próprios fatos que escapavam de meu entendimento. Se tudo isso era tão meu, tão pessoal, a força maior seria uma parte de mim. Um psicológico reprimido em minhas próprias lembranças. Então era eu mesma que me levava à agonia e ao pânico. Tudo era tão torturante. Tão aterrorizante agora que nada mais estava sobre o controle de minha mente sã.

Meu desejo de escapar desse lugar era pleno. Mas se algo não me permitia sair, seria eu. Levando a confusa conclusão de que minha parte forte ansiava pela minha estadia. Era tudo tão frio. Eu suplicava pela fuga ao mesmo momento que implorava pelas correntes eternas dali. Faltava-me coragem para assumir minha parte escondida. Pedi perdão a mim nos momentos de negação, nas omissões da minha verdadeira vida. Em um impulso apenas após a conformidade e falsa aceitação, rasguei a cortina preta daquele pesadelo. Suspirei aliviada. Tudo teria sido ilusão depois da luz invadir meus sentidos. E novamente eu negava a parte de mim que gritava por tudo ter sido um aviso.

As noites de estenderam turvas.

E só posso encerrar dizendo que isso, de fato, tem ocorrido comigo.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,

Essa coisa é o que somos." (José Saramago)

Não sei quanto a você, mas eu chamo essa coisa de Djuly. Não, brincadeira, claro né. Botei essa frase em homenagem a um dos melhores escritores da literatura brasileira, que faleceu hoje.
Se passou algum (muito) tempo desde que eu postei alguma coisa. Até houveram dias em que a inspiração veio, e me deixou com uma vontade de louca de escrever em qualquer lugar. E é nessas horas que minha mãe me vê correndo pro meu quarto, bagunçando a gaveta a procura de um caderno onde eu possa anotar antes que meu pensamento fuja. Mas como eu sou (uma bosta literária) não muito boa em escrever as coisas, eu não publico. Só que a de hoje me pareceu interessante. Mas devo avisar que hoje o post será longo.
Minha mãe me disse uma frase hoje. Não sei quem é o autor, e sinceramente não procurei por preguiça. Então digamos que é de Autor Desconhecido. "O coração tem razões que a própria razão desconhece". A Ingrid também me disse uma coisa hoje, que eu nunca tinha parado para pensar. Ela disse que eu sou "fechada", não falo muito sobre mim. Eu fiquei pensando nessas coisas durante muito tempo, e não foi tão difícil chegar a uma conclusão. Eu sei que elas parecem desconexas, mas paciência.
Eu não vou entrar em detalhes do motivo de eu ser assim, razões pessoais. Mas a questão é que, realmente, eu sou um livro fechado. Eu sempre achei o contrário, mas não. Com o tempo eu criei uma casca que separava meu físico do emocional. E na minha opinião é uma casca fina e sensível, que é fácil de ser quebrada, mas que ainda assim me esconde com uma imagem que não sou eu. Eu poderia dizer que ela é turva e escura, borrada. Isso não tem motivos exibicionistas nem nada do tipo (por favor né), é só pra minha proteção. Eu construí ela pra me proteger, e quem sabe esconder, das coisas com que eu não sei lidar. No fundo, eu não sou essa pessoa que vocês podem enxergar. Quase ninguém é, somos muito além disso.
Um teste que eu fiz hoje afirmou sobre mim "Reluta em expor sua vulnerabilidade e, portanto, considera desaconselhável demonstrar afeto ou ser excessivamente efusivo. Considera a relação como laço deprimente, mas embora queira ser independente e desimpedido, não quer correr o risco de perder seja o que for. Tudo isso o leva a reagir com irritação impaciência, ao mesmo tempo que o impulso para "fugir de tudo" resulta em considerável inquietação."
E calma, eu não falei aquela frase da minha mãe por motivo nenhum. Eu estava conversando com ela (não importa o assunto rs), e o que a Ingrid me disse veio a tona. Meu emocional arranja umas razões que eu mesma não sei decifrar, e prefiro nem tentar para não acabar maluca. Mas eu escondo isso, ou tento. As vezes a minha "casca" fica tão nítida que é possível enxergar parte da verdadeira Djuly que existe dentro de mim (Haa, a frase do Saramago não era sem motivo, viu rs). Porém, como eu preservo a minha imagem, tento mascarar o que acontece. Claro que as coisas acabam confusas, e é possível que você descubra o que realmente está acontecendo. Isso está acontecendo muito frequentemente. E pra falar a verdade, isso é um pouco preocupante pra mim.
Quando tudo aquilo que você construiu durante a sua vida começa a desmoronar, é inevitável você tentar reconstruir. Desde muito (muito) pequena (é, mais), eu já tinha começado isso. Só que minha casca era grossa e rígida. Acho que com o tempo em que eu fui amadurecendo, eu tive de me preocupar com outras coisas e isso foi ficando de lado. Para quem era chamada de "nervosinha", "pimenta" ou "mandona", ser chamada de coisas um tanto melhores hoje é difícil de acreditar. Eu não sei se eu poderia chamar isso de progresso, mas que alguma coisa está acontecendo, está. Eu sinceramente estou começando a ficar confusa com minhas próprias idéias. Então vou concluir dizendo que por mais que essa barreira seja alta, ela possui frestas, e em algum momento alguém vai espiar por uma delas. E quem sabe, isso não será tão ruim.